Dieta ou treino
- Rudney Nicacio
- 19 de mar.
- 3 min de leitura

Para a hipertrofia muscular, o que é mais determinante: o treinamento resistido ou a alimentação?
A hipertrofia muscular esquelética é um processo complexo e multifatorial, resultado de um balanço proteico positivo sustentado ao longo do tempo, onde a síntese proteica supera a degradação muscular. Esse fenômeno é primariamente dependente do estímulo mecânico induzido pelo treinamento resistido (TR), o qual promove adaptações morfofuncionais nas fibras musculares, especialmente nas do tipo II (rápidas), altamente responsivas à sobrecarga.
O TR atua como o principal agente desencadeador da cascata de sinalização anabólica, ativando vias intracelulares como a mTORC1 (mechanistic Target of Rapamycin Complex 1), considerada o principal regulador da síntese proteica muscular (SPM). A magnitude dessa resposta é proporcional ao volume, intensidade, densidade e frequência do treinamento, além da manipulação estratégica das variáveis como tempo sob tensão, amplitude de movimento e técnicas avançadas de sobrecarga.
Vale ressaltar que, ao contrário de conceitos mais antigos, a degradação muscular e o dano tecidual não são requisitos obrigatórios para a hipertrofia. A degradação proteica é um fenômeno natural durante o ciclo de remodelação muscular, mas o dano estrutural excessivo é, na verdade, um efeito colateral do treinamento e não o mecanismo primário que promove o crescimento muscular. Estudos recentes mostram que a ativação da síntese proteica via estímulos mecânicos e metabólicos pode ocorrer mesmo com níveis mínimos de microlesão muscular, especialmente quando o foco do treino está na tensão mecânica e no estresse metabólico adequadamente aplicados.
A nutrição exerce papel crucial na modulação desse processo, fornecendo os substratos necessários para a reparação tecidual e o crescimento muscular. A ingestão adequada de proteínas de alto valor biológico, especialmente ricas em leucina, potencializa a síntese proteica, enquanto carboidratos e lipídios garantem o aporte energético, favorecendo o ambiente anabólico e minimizando o catabolismo.
Adicionalmente, o aporte energético total desempenha papel fundamental na manutenção do balanço nitrogenado positivo. Um déficit calórico severo, mesmo com ingestão proteica adequada, compromete a sinalização anabólica e favorece o catabolismo muscular via elevação de hormônios contrarreguladores como o cortisol.
É fundamental reforçar que a nutrição isoladamente, mesmo em condições de superávit energético e alta disponibilidade de proteínas, não promove hipertrofia na ausência do estímulo mecânico. O anabolismo muscular não é um processo passivo dependente apenas de nutrientes, mas sim uma resposta ativa a um estressor fisiológico — o treinamento resistido.
Portanto, embora a alimentação exerça papel coadjuvante imprescindível, o treinamento resistido é o fator primário, determinante e não substituível para a hipertrofia muscular, sendo o gatilho inicial que condiciona todas as demais adaptações metabólicas e estruturais necessárias ao aumento da massa muscular esquelética.
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Essas referências reforçam a compreensão atual de que o dano muscular não é essencial para a hipertrofia, e que outros fatores, como a tensão mecânica e o estresse metabólico, desempenham papéis mais significativos no crescimento muscular.
Estudo da Universidade de São Paulo (USP):
Uma pesquisa conduzida pela USP avaliou dez homens jovens que realizaram treinamento de força durante dez semanas. Os resultados indicaram que o dano muscular não é o processo que explica a hipertrofia muscular, nem mesmo a potencializa.
Pesquisa publicada no Repositório da UNESP:
Este estudo sugere que a hipertrofia muscular é comprometida pelo dano muscular, sendo que o aumento na área de secção transversa muscular ocorre quando os níveis de microlesões musculares são insignificantes.
Artigo no portal VivaBem (UOL):
Este artigo destaca que pequenas lesões no treino não levam ao aumento de massa muscular, reforçando que o dano muscular induzido pelo treinamento de força não desempenha um papel significativo na hipertrofia muscular.
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