Musculação e miocinas
- Rudney Nicacio
- 10 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de set.

A musculação, também chamada de treinamento de força ou treinamento resistido, é uma prática fundamental para a promoção da saúde, prevenção de doenças e melhora da qualidade de vida. Seus benefícios vão muito além do aumento da força e da hipertrofia muscular. Nas últimas décadas, a ciência descobriu que o músculo esquelético não é apenas um tecido responsável pela locomoção e pelo metabolismo energético, mas também funciona como um órgão endócrino ativo, capaz de produzir e liberar miocinas — proteínas sinalizadoras que exercem efeitos locais e sistêmicos no organismo.
O que são miocinas?
As miocinas são citocinas e peptídeos bioativos secretados pelo músculo esquelético durante a contração muscular. Elas atuam de forma autócrina (no próprio músculo), parácrina (nos tecidos vizinhos) e endócrina (à distância, via corrente sanguínea), influenciando uma ampla gama de processos fisiológicos.
As miocinas desempenham papéis importantes em:
Metabolismo da glicose e lipídios – melhorando a sensibilidade à insulina e favorecendo a oxidação de ácidos graxos.
Regulação da inflamação – modulando o sistema imunológico e reduzindo processos inflamatórios crônicos.
Saúde cardiovascular – promovendo angiogênese, melhora da função endotelial e regulação da pressão arterial.
Função cerebral – estimulando a neuroplasticidade, a cognição e a saúde mental.
Equilíbrio energético – aumentando o gasto calórico e auxiliando no controle do peso corporal.
Principais miocinas relacionadas ao exercício de musculação
Irisina
Derivada do clivamento da proteína FNDC5.
Estimula a “browning” do tecido adiposo branco, aumentando o gasto energético.
Associada à melhora do metabolismo da glicose e à proteção contra a obesidade.
IL-6 (Interleucina-6)
Liberada em grande quantidade durante o exercício.
Atua de forma dual: em condições agudas, tem efeito anti-inflamatório e melhora a sensibilidade à insulina; em excesso crônico (como em doenças), pode ser pró-inflamatória.
IL-15
Relacionada ao aumento da massa muscular e redução da gordura corporal.
Tem papel importante na hipertrofia e no metabolismo energético.
BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro)
Produzido também pelo músculo durante a contração.
Contribui para a saúde cognitiva, memória e proteção contra doenças neurodegenerativas.
Mioquina FGF-21 (Fator de Crescimento de Fibroblastos 21)
Regula o metabolismo da glicose e lipídios.
Protege contra resistência à insulina e obesidade.
Mioquina Decorina
Relacionada à hipertrofia, pois inibe a miostatina (proteína que limita o crescimento muscular).
Musculação como estímulo para a liberação de miocinas
Durante o treinamento resistido, especialmente quando há contrações intensas e repetidas, ocorre um aumento significativo na produção de miocinas. Esse efeito não depende apenas da carga utilizada, mas também do volume total de treino, da duração da contração e da massa muscular envolvida.
Treinos de força estimulam miocinas ligadas ao crescimento e regeneração muscular.
Treinos metabólicos (maior volume, curtos intervalos, altas repetições) tendem a aumentar a secreção de miocinas relacionadas ao metabolismo energético e ao controle do peso.
Portanto, a musculação é capaz de transformar o músculo em um “órgão endócrino ativo”, beneficiando diversos sistemas do corpo.
Impacto sistêmico das miocinas liberadas na musculação
Metabolismo – melhora da sensibilidade à insulina, maior utilização de glicose pelos músculos e redução do risco de diabetes tipo 2.
Controle do peso corporal – estímulo à lipólise e ao gasto energético.
Redução da inflamação crônica – importante na prevenção de doenças cardiovasculares, obesidade, síndrome metabólica e até câncer.
Saúde mental – aumento de neurotransmissores e fatores neurotróficos, reduzindo sintomas de depressão e ansiedade.
Longevidade – ação protetora contra sarcopenia, osteoporose e declínio cognitivo.
Conclusão
A musculação não é apenas uma prática para ganhar força ou estética corporal; ela representa um poderoso recurso terapêutico e preventivo. Ao estimular a produção de miocinas, transforma o músculo em um verdadeiro “órgão endócrino”, capaz de influenciar positivamente a saúde metabólica, cardiovascular, imunológica e cerebral.
Assim, a prática regular de musculação deve ser considerada não apenas um exercício físico, mas uma estratégia de promoção integral da saúde e longevidade, atuando como “medicina preventiva” acessível e eficaz.