No Pain, No Gain
- Rudney Nicacio

- 16 de ago. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de set.

“No pain, no gain”: uma análise crítica
A expressão “No pain, no gain” (“Sem dor, sem ganho”) surgiu na cultura do treinamento físico e ganhou força principalmente no fisiculturismo e nos esportes de alto rendimento. A ideia central é que o esforço intenso, que muitas vezes gera desconforto físico e mental, seria indispensável para conquistar resultados significativos. Embora motivadora em alguns contextos, essa máxima também pode gerar interpretações equivocadas e até prejudiciais à saúde.
Aspectos positivos
Motivação para ultrapassar limites
O mantra ajuda a criar uma mentalidade de disciplina e superação.
Estimula o praticante a não desistir diante do desconforto inicial comum em treinos desafiadores.
Ensina que a evolução acontece fora da zona de conforto.
Construção de resiliência mental
Desenvolve tolerância à frustração e perseverança.
Ensina a lidar com a fadiga, dores musculares leves (como a dor tardia pós-exercício – DOMS) e outros desconfortos normais do treinamento.
Reconhecimento do esforço como parte do progresso
Reforça a ideia de que resultados consistentes exigem dedicação contínua.
Afasta ilusões de ganhos rápidos sem comprometimento.
Aspectos negativos
Risco de interpretação literal
Muitos praticantes confundem dor muscular “normal” com dor lesiva.
Essa interpretação pode levar a treinar mesmo com lesões articulares, tendíneas ou musculares, agravando problemas.
Associação entre sofrimento e resultado
Pode reforçar a crença de que apenas o treino extenuante gera benefícios.
Isso desvaloriza práticas mais leves e igualmente eficazes, como treinos moderados, yoga, caminhada e exercícios de mobilidade.
Sobrecarga física e psicológica
O excesso de intensidade pode causar overtraining, queda de imunidade, distúrbios de sono e aumento do estresse.
Psicologicamente, pode criar culpa ou frustração em quem não suporta treinos dolorosos, afastando iniciantes.
Risco de elitização do exercício
O mantra pode transmitir a ideia de que só “os fortes” se beneficiam da prática, ignorando a individualidade biológica.
Isso afasta pessoas que buscam saúde, bem-estar e longevidade sem foco em performance extrema.
O equilíbrio necessário
A ciência do exercício físico mostra que o progresso ocorre através de um estímulo seguido de descanso e adaptação. O desconforto moderado faz parte desse processo, mas a dor intensa ou incapacitante é sinal de que algo está errado.
Portanto, o ideal seria substituir o “No pain, no gain” por algo mais realista, como:
“No challenge, no change” (“Sem desafio, não há mudança”);
“Treine com esforço, não com sofrimento”.
Essas versões mantêm o valor da dedicação sem cair na armadilha de glorificar a dor.
Em resumo:O mantra “No pain, no gain” pode ser um combustível motivacional quando entendido como a necessidade de esforço e disciplina. Contudo, usado de forma literal ou extrema, pode levar a lesões, frustrações e até ao abandono da prática. O caminho mais inteligente é treinar com intensidade progressiva, autoconsciência e respeito aos limites individuais, equilibrando desafio e segurança.


