O equívoco de mudar a posição dos pés para hipertrofiar partes diferentes da panturrilha

É comum encontrar, especialmente no meio do fisiculturismo recreativo e nas redes sociais, a recomendação de variar a posição dos pés — voltados para dentro, para fora ou paralelos — durante exercícios de panturrilha (flexão plantar) com o intuito de "isolar" partes diferentes dos gastrocnêmios. No entanto, essa prática se baseia mais em mitos do que em evidências anatômicas e fisiológicas sólidas.

Os gastrocnêmios, os principais músculos da panturrilha, têm duas cabeças (medial e lateral) que se originam acima do joelho e convergem em um único tendão de Aquiles. Essa estrutura não permite uma ativação seletiva tão precisa apenas com rotações dos pés. Estudos eletromiográficos mostram que pequenas variações na posição dos pés não produzem diferenças significativas na ativação das cabeças medial e lateral do gastrocnêmio. O movimento de extensão do tornozelo continua sendo o mesmo — a contração conjunta do complexo do tríceps sural.

Além disso, há a noção de hipertrofia não uniforme, que é real e acontece de maneira natural. Isso significa que mesmo um músculo que realiza a mesma função em todas as repetições pode apresentar diferentes graus de crescimento ao longo de sua extensão (proximal, medial, distal) devido a fatores como inserções musculares, tipos de fibra predominantes e até variações individuais na biomecânica. No entanto, isso não significa que possamos "esculpir" essas regiões à vontade apenas alterando a rotação do pé.

Para promover um desenvolvimento completo dos gastrocnêmios, o mais importante é aplicar princípios sólidos de treinamento: progressão de carga, boa execução, controle do tempo sob tensão e consistência.

Em vez de buscar "atalhos" baseados em detalhes pouco significativos, como o ângulo dos pés, o praticante teria melhores resultados focando na qualidade geral do treino e respeitando a individualidade do seu corpo.