A equação do sofrimento
- Rudney Nicacio

- 22 de nov.
- 3 min de leitura

Sofrimento = Dor × Resistência — é uma das formas mais claras e poderosas de explicar por que algumas experiências humanas doem tanto mais do que deveriam. Ela não vem da matemática, mas de uma compreensão psicológica e contemplativa de como a mente reage aos desafios do presente.
A seguir está um texto detalhado, profundo e fácil de entender sobre essa equação.
A dor é inevitável, o sofrimento é opcional
A dor faz parte da vida. Ela pode ser física (uma doença, uma lesão), emocional (uma perda, um término) ou existencial (incertezas, medos, frustrações). A dor é o evento bruto, o que acontece fora do nosso controle.
O sofrimento, porém, é diferente. Ele é o que fazemos internamente com a dor — como interpretamos, resistimos, brigamos ou lutamos contra aquilo que já está acontecendo.
E é aí que entra a equação:
Sofrimento = Dor × Resistência
Essa equação significa que o sofrimento não depende apenas da intensidade da dor, mas, principalmente, do quanto resistimos ao que está acontecendo agora.
A “dor” é o fato.
A situação real.
O que aconteceu.
Aquilo que não podemos mudar naquele instante.
Exemplos:
“Perdi o emprego.”
“Meu corpo está doendo.”
“Essa pessoa não corresponde ao que eu quero.”
“Cometi um erro.”
A “resistência” é a nossa luta interna.
É a recusa em permitir que o momento seja o que ele já é.
Expressões comuns da resistência:
“Isso não podia ter acontecido comigo!”
“Não aceito!”
“Não é justo!”
“Eu precisava que fosse diferente!”
“Por que agora? Por que assim?”
A resistência é o não contínuo que a mente dá à realidade.
A dor existe — mas quem multiplica ela por 5, 10 ou 100 é a resistência.
Como funciona essa multiplicação?
Se a dor é pequena, mas a resistência é enorme
O sofrimento cresce de forma desproporcional. Uma contrariedade vira um dia arruinado. Uma crítica vira um colapso emocional. Um atraso no trânsito vira ódio.
Se a dor é grande, mas a resistência é pequena
O sofrimento se torna administrável. É possível passar por lutos, doenças e perdas com serenidade surpreendente — não porque a dor é leve, mas porque há aceitação e presença.
Se a resistência é zero
O sofrimento é zero. A dor continua existindo, mas deixa de gerar turbulência mental. Isso não é passividade — é lucidez.
Aceitação não é resignação
Aceitar não significa:
“Gostar da dor”
“Concordar com o que aconteceu”
“Deixar tudo como está”
Aceitar significa parar de lutar contra o momento presente, porque ele já é o que é.
A aceitação abre espaço para respostas mais inteligentes, compassivas e eficazes.A resistência bloqueia a clareza; a aceitação libera energia para agir.
A aceitação dissolve sofrimento e libera ação
Quando você aceita plenamente algo desagradável, percebe que:
Metade da dor era criada pela mente.
Você ganha força para agir sem desespero.
Surge calma, mesmo em meio ao caos.
Você reage com menos impulsividade e mais sabedoria.
A energia antes usada para lutar contra a realidade passa a ser usada para transformá-la.
A equação do sofrimento na prática
Aqui vão alguns exemplos reais:
Dor: “Estou ansioso.”
Resistência: “Não posso me sentir assim!”→ Sofrimento aumenta.
Dor: “Estou ansioso.”
Aceitação: “Ok, ansiedade está presente. Vou respirar com ela.”→ Sofrimento diminui.
Dor: “Perdi alguém.”
Resistência: “Não posso aceitar essa perda.”→ Sofrimento multiplica.
Dor: “Perdi alguém.”
Aceitação: “Isso dói profundamente, mas eu me permito sentir.”→ Sofrimento se torna suportável.
Dor: “Cometi um erro.”
Resistência: “Eu não podia ter errado!”→ Sofrimento aumenta e o aprendizado diminui.
Dor: “Cometi um erro.”
Aceitação: “Erro aconteceu. O que posso aprender?”→ Clareza, responsabilidade e crescimento.
A equação na meditação e no mindfulness
A prática do mindfulness se baseia exatamente nisso:
Perceber a dor sem resistência.
Observar as emoções sem lutar contra elas.
Entrar em contato com o presente como ele é.
Quando a resistência cai, até dores antigas começam a se dissolver.
Conclusão
A equação do sofrimento nos ensina algo simples, porém transformador:
A dor é inevitável. O sofrimento é uma amplificação criada pela mente quando resistimos ao que já é.
Diminuir a resistência é o caminho direto para a liberdade interior.
A vida continua tendo desafios, mas você deixa de ser arrastado por eles — porque aprende a se relacionar com o momento presente com mais abertura, aceitação e consciência.




