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Analisando os efeitos fisiológicos do ser humano quando em contato com atitudes violentas, agressões e maus-tratos

  • Foto do escritor: Rudney Nicacio
    Rudney Nicacio
  • 3 de dez.
  • 4 min de leitura
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O ser humano é profundamente influenciado pelo ambiente emocional e social em que vive. Quando exposto a atitudes violentas, agressões ou maus-tratos, seu organismo responde de forma imediata e intensa, ativando mecanismos fisiológicos destinados originalmente à sobrevivência, mas que, quando acionados de forma repetida, podem gerar graves consequências à saúde física e mental.


Do ponto de vista biológico, a exposição à violência desencadeia a ativação do eixo hipotálamo–hipófise–adrenal (HHA), responsável pela liberação de hormônios do estresse, como adrenalina e cortisol. Em situações momentâneas, essa resposta é útil: acelera os batimentos cardíacos, aumenta a tensão muscular, amplia a atenção e prepara o corpo para reagir. Entretanto, quando a pessoa vive sob constante ameaça, humilhação, medo ou hostilidade, esse estado de alerta se prolonga, tornando-se prejudicial. O cortisol elevado de forma crônica pode causar dores musculares persistentes, aumento da pressão arterial, alterações no sono, enfraquecimento do sistema imunológico e desequilíbrios metabólicos.


No campo emocional e neurológico, a experiência repetida da violência interfere nas áreas cerebrais responsáveis pela regulação das emoções, como a amígdala e o córtex pré-frontal. A amígdala, que atua como um “alarme interno”, torna-se hiperativada, levando a reações exageradas, ansiedade constante e dificuldade de confiar nos outros. Já o córtex pré-frontal, responsável pelo raciocínio, tomada de decisões e autocontrole, pode ter sua atividade reduzida, dificultando a capacidade de refletir, dialogar ou reagir de forma equilibrada. Ao longo do tempo, isso contribui para o surgimento de quadros como depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), irritabilidade crônica e sensação de desconexão com o próprio corpo e com o mundo ao redor.


É justamente diante desse impacto profundo que a filosofia do Yoga, especialmente dos Yamas e Niyamas, se torna essencial. Essas diretrizes éticas — que formam a base do caminho yogui — não são apenas princípios morais abstratos, mas ferramentas práticas para restaurar o equilíbrio interno e transformar a forma como nos relacionamos com nós mesmos, com os outros e com o ambiente.


Os Yamas, que incluem ahimsa (não violência), satya (verdade), asteya (não roubar), brahmacharya (moderação) e aparigraha (não apego), promovem uma postura interna que reduz a propagação da violência em todas as suas formas — verbal, mental, emocional ou física. Ao praticar ahimsa, por exemplo, desenvolvemos a sensibilidade de perceber quando nossos pensamentos e ações alimentam tensão, agressividade ou medo, substituindo-os por atitudes que favorecem a segurança psicológica e o respeito ao outro. Isso, por si só, diminui a ativação fisiológica associada ao estresse e favorece um estado orgânico de calma.


Os Niyamas, por sua vez — saucha (pureza), santosha (contentamento), tapas (disciplina), svadhyaya (autoconhecimento) e Ishvara pranidhana (entrega ao sagrado) — ajudam a cultivar um ambiente interno saudável, promovendo clareza mental, equilíbrio emocional e hábitos que fortalecem o bem-estar do corpo. Práticas como a disciplina consciente (tapas) e o cultivo do contentamento (santosha) atuam diretamente na redução da ansiedade, pois transformam a maneira como interpretamos desafios e adversidades, favorecendo respostas mais compassivas e menos reativas.


Quando Yamas e Niyamas são incorporados à vida cotidiana, eles funcionam como um antídoto ao ambiente hostil que tantas vezes causa sofrimento humano. Eles não apenas reduzem comportamentos violentos, mas também reeducam o sistema nervoso, estimulam estados fisiológicos de relaxamento, ampliam a capacidade de empatia e fortalecem a resiliência emocional. Assim, tornam-se pilares fundamentais para quem busca viver com mais leveza, segurança interna e coerência entre corpo, mente e espírito.


Reflexão

Assim como a ciência — física, química, biologia e todas as suas ramificações — não foram criadas pelo ser humano, mas descobertas a partir da observação atenta dos padrões inteligentes que regem a natureza, também os princípios éticos e espirituais transmitidos pelos grandes mestres da humanidade não surgem do acaso. Eles são, de certa forma, um reflexo dessas mesmas leis naturais aplicadas ao comportamento humano.


A ciência não inventa a gravidade, a eletricidade ou as reações químicas: ela apenas descreve o que já existe, o que já opera silenciosamente no tecido da realidade. Da mesma forma, valores como amor, compaixão, não violência e respeito não são construções arbitrárias de culturas específicas; eles correspondem às dinâmicas naturais que permitem a harmonia, a cooperação e a continuidade da vida humana. São princípios que favorecem o equilíbrio fisiológico, emocional e social — e por isso aparecem de forma recorrente em tradições antigas espalhadas pelo mundo.


Quando mestres como Patanjali, Buda, Jesus, Lao Tsé e tantos outros ensinaram a não violência, a verdade, a simplicidade, a moderação e a compaixão, eles não estavam apenas propondo um “código moral”. Estavam apontando para leis naturais de causa e efeito que atuam diretamente no corpo e na mente. Assim como um organismo sofre quando vai contra as leis da biologia, também sofre quando vive imerso em atitudes violentas, desonestas, possessivas ou movidas pelo egoísmo. O sofrimento, nesse sentido, é um indicador natural de desalinhamento — tal como a dor física indica que algo no corpo precisa ser cuidado.


Portanto, Yamas e Niyamas não são mandamentos impostos externamente, mas observações profundas do funcionamento humano. São princípios que revelam como o ser humano pode viver em consonância com a ordem natural do universo e, assim, reduzir a ativação fisiológica do estresse, cultivar clareza mental, favorecer relações pacíficas e promover um estado interno de maior saúde e plenitude.


Se a ciência descreve como os fenômenos materiais se comportam, essas tradições descrevem como a consciência humana pode se harmonizar com as leis sutis da vida. Ambas, cada uma a seu modo, apontam para a mesma direção: entender, respeitar e fluir com a natureza — e não contra ela. E é justamente desse alinhamento que surge a possibilidade real de amenizar, transformar ou até cessar o sofrimento.


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© 2016 por Rudney Nicacio.

Orgulho de ser WIX!

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