Circunferência Abdominal e o Impacto na Saúde Metabólica e Cardiovascular
- Rudney Nicacio
- há 6 minutos
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A circunferência abdominal (CA) é um indicador antropométrico amplamente utilizado para avaliar a adiposidade central, considerada um fator de risco independente para diversas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), particularmente as doenças cardiovasculares (DCV) e o diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Ao contrário de medidas globais como o Índice de Massa Corporal (IMC), a circunferência abdominal reflete mais precisamente a quantidade de tecido adiposo visceral, metabolicamente mais ativo e potencialmente mais prejudicial do que a gordura subcutânea periférica.
Gordura Visceral e Risco Metabólico
O acúmulo de gordura visceral está associado a uma secreção exacerbada de adipocinas pró-inflamatórias (como TNF-α, IL-6) e redução de adipocinas protetoras, como a adiponectina, favorecendo um estado inflamatório crônico de baixo grau. Essa condição promove resistência à insulina, dislipidemia aterogênica (elevação de triglicerídeos e redução do HDL-colesterol), aumento da pressão arterial e disfunção endotelial, todos fatores integrantes da síndrome metabólica.
Estudos de imagem (como tomografia computadorizada e ressonância magnética) confirmam que indivíduos com maior acúmulo de gordura visceral apresentam maior risco de eventos cardiovasculares, independentemente do IMC. Inclusive, indivíduos classificados como “metabolicamente obesos com peso normal” (MONW), ou seja, com IMC normal, mas com aumento da gordura abdominal, demonstram risco cardiovascular semelhante ou superior ao de indivíduos obesos generalizados.
Valores de Referência
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Federação Internacional de Diabetes (IDF), pontos de corte para risco metabólico associado à CA são:
Homens: ≥ 94 cm (risco aumentado) e ≥ 102 cm (risco muito aumentado)
Mulheres: ≥ 80 cm (risco aumentado) e ≥ 88 cm (risco muito aumentado)
Vale destacar que alguns consensos propõem pontos de corte diferenciados de acordo com etnias, dado que populações asiáticas e latino-americanas tendem a apresentar maior risco cardiometabólico para valores menores de CA.
Impacto na Saúde Pública
A circunferência abdominal elevada está associada a aumento significativo da mortalidade por todas as causas. Estudos de coorte, como o INTERHEART Study e o NHANES (National Health and Nutrition Examination Survey), mostram que a adiposidade abdominal é um determinante importante da incidência de DCV, independentemente do IMC. Além disso, o aumento da CA é preditor do desenvolvimento de resistência à insulina e DM2, sendo mais sensível para risco metabólico do que a obesidade generalizada.
Exercício Físico e Redução da Circunferência Abdominal
A redução da circunferência abdominal e da gordura visceral é possível por meio de mudanças no estilo de vida, com destaque para:
Exercícios Aeróbicos: comprovadamente eficazes na redução do tecido adiposo visceral e melhora do perfil lipídico.
Exercício Resistido (Musculação): além do ganho de massa muscular, a musculação exerce um papel fundamental na redução da gordura visceral. O aumento da massa magra eleva a taxa metabólica de repouso, melhorando a utilização de glicose e ácidos graxos, o que impacta diretamente na sensibilidade à insulina e na redução do risco cardiometabólico. Estudos mostram que o exercício resistido pode promover reduções significativas da gordura visceral mesmo sem grandes perdas de peso total, sendo uma estratégia eficiente e segura para indivíduos com sobrepeso, obesidade central ou resistência à insulina.
Intervenção Nutricional: padrões alimentares ricos em fibras, baixo consumo de açúcares refinados e ácidos graxos trans.
Controle do Estresse e Sono Adequado: fatores que impactam diretamente o acúmulo de gordura abdominal via eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.
Conclusão
A circunferência abdominal é um marcador clínico simples, de baixo custo e altamente preditivo de risco metabólico e cardiovascular. Sua utilização na prática clínica deve ser prioritária, tanto para triagem quanto para monitoramento de intervenções voltadas à saúde metabólica. A integração de exercícios aeróbicos e resistidos, alimentação adequada e hábitos saudáveis representa uma das estratégias mais eficazes na prevenção de DCV, DM2 e mortalidade prematura.
Referências científicas:
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