top of page

Como interpretar se um artigo científico é bom ou ruim — e como não cair em manipulações de influencers

  • Foto do escritor: Rudney Nicacio
    Rudney Nicacio
  • há 7 minutos
  • 3 min de leitura
ree

Vivemos em tempos em que “estudos científicos” são usados como armas retóricas. Basta um print de gráfico ou uma frase tirada de contexto para que muitos influencers defendam qualquer opinião como se fosse verdade absoluta. Mas nem todo artigo é confiável — e nem todo dado é bem interpretado. Para não ser enganado, é preciso entender os critérios básicos de qualidade científica.

O que torna um artigo científico confiável?
  • Onde foi publicado?

Jornais científicos com revisão por pares (peer review) são mais confiáveis.

Revistas predatórias ou sem revisão costumam publicar qualquer coisa mediante pagamento.

  • Tamanho da amostra e metodologia

Estudos com poucas pessoas, sem grupo controle ou sem randomização têm maior chance de erro.

Verifique quem financiou o estudo. Se a indústria interessada bancou, o viés pode aparecer.

  • Resultados x Conclusões

Às vezes o resultado é estatisticamente insignificante, mas os autores tentam forçar uma conclusão positiva.

Influencers adoram destacar apenas o que lhes interessa e ignorar as limitações.

Como os influencers manipulam estudos para enganar o público?
Táticas comuns:

Usar estudos fracos como se fossem definitivosExemplo: estudo com 8 pessoas e sem grupo controle sendo usado para validar uma dieta ou suplemento.

Misturar correlação com causa Ex: “Quem toma café vive mais” → isso não prova que o café causa longevidade; pode ser apenas um marcador de estilo de vida.

Escolher só os estudos que confirmam a opinião (cherry picking) A pessoa ignora 10 estudos contrários e mostra só 1 favorável.

Exagerar efeitos estatisticamente insignificantes Ex: “Reduziu 5% o risco!” → na prática, isso pode significar “de 100 para 95 pessoas”.

Como se proteger da desinformação científica?

Desconfie de quem afirma certeza absoluta usando UM artigo.

Valorize revisões sistemáticas e metanálises recentes.

Verifique se há consenso entre instituições sérias (OMS, SBEM, ADA etc.).

Veja se o estudo mostra efeito “clínico” ou apenas “estatístico” — nem tudo que muda no número faz diferença na vida real.

Desconfie de quem vende o que defende. Se o influencer cita um artigo e logo depois oferece um produto, cuidado.


Tipos de Estudos Científicos Explicados de Forma Simples

Relato de caso / Opinião (Evidência muito fraca)
  • O que é: Um médico ou pesquisador conta o que aconteceu com uma ou poucas pessoas.

  • Serve para: Levantar suspeitas ou gerar curiosidade científica.

  • Não serve para: Dizer que algo funciona ou não.

  • Exemplo: “Paciente tomou chá X e melhorou da dor.” — Isso pode ser coincidência!

Estudos Observacionais (Evidência média)

São estudos em que o pesquisador não interfere, apenas observa o comportamento das pessoas e compara resultados. Existem dois principais tipos:

a) Estudo Transversal
  • Olha um grupo de pessoas num único momento.

  • Exemplo: “Quem come mais frutas tem menos pressão alta?” → Só mostra associação, não prova causa.

b) Estudo de Coorte
  • Acompanha duas populações diferentes ao longo do tempo.

  • Exemplo: “Acompanhamos 10 mil fumantes e 10 mil não fumantes por 10 anos”.Pode sugerir causa, mas ainda pode ter outros fatores escondidos.

Ensaios Clínicos Randomizados (Evidência alta)
  • O pesquisador interfere e divide as pessoas em grupos por sorteio (aleatório).

  • Um grupo recebe o tratamento (ex: remédio ou dieta), outro recebe placebo ou tratamento padrão.

  • Melhor jeito de descobrir se algo funciona.

  • Exemplo: “100 pessoas tomam remédio X, 100 tomam placebo — vamos ver quem melhora.”

Se for duplo-cego, melhora ainda mais: nem o médico nem o paciente sabe quem recebeu o quê — assim ninguém influencia o resultado.

Revisão Sistemática / Metanálise (Evidência muito alta)
  • Em vez de fazer um estudo novo, o pesquisador pega todos os estudos bons já feitos sobre um tema e analisa juntos.

  • A metanálise ainda junta os resultados com estatística, fazendo tipo uma “média geral”.

  • É como perguntar: “No geral, o conjunto das evidências diz que funciona?”

  • Exemplo: “Juntamos 25 estudos sobre creatina e concluímos que ela realmente aumenta força muscular.”

Mas atenção: se juntar estudos ruins, o resultado será ruim também!

Resumindo em uma metáfora de tribunal:

Tipo de Estudo

Comparação com Tribunal

Confiabilidade

Relato de caso / opinião

Uma pessoa deu um depoimento

Muito fraco

Estudo observacional

Duas testemunhas dizem que parece ser assim

Médio

Ensaio clínico

Experimento controlado com provas objetivas

Alto

Metanálise

Vários julgamentos anteriores com veredito unificado

Muito alto

Conclusão

Ciência não é argumento de autoridade — é método. O verdadeiro conhecimento não se constrói em cima de um único artigo isolado, e sim no conjunto das evidências. Aprender a interpretar estudos não é ser “cético demais”, é ser intelectualmente honesto e livre para não ser manipulado.

CONTATO
  • Projeto-Statera
  • Black Instagram Icon
  • Black YouTube Icon
  • wz

© 2016 por Rudney Nicacio.

Orgulho de ser WIX!

bottom of page